A Casa dos gatos, por Jesuíno André
Estava num bar, conversando e bebendo com dois amigos quando na mesa ao lado um sujeito chamou a atenção. Era um senhor de cabelos brancos e longos, barba comprida também branca, sobre um rosto rosado no qual usava óculos de grau de lentes escuras; quase um albino como Hermeto Pascoal.
Conversava super animado ao lado de duas moças e de uma garrafa de cachaça escondida num isopor, da qual dava uma bicada elegantemente. Tive a impressão e busquei em minha memória que já tinha visto esta pessoa antes…
Daqui a pouco, esbanjando simpatia, chega junto da nossa mesa, pede licença e senta para prosear conosco. Com a minha curiosidade, não esperei ele falar e perguntei:
– Me diga uma coisa, qual é o seu nome?
– Me chamo Olívio!
– Alguns anos atrás, você fez uma festa de aniversário aqui mesmo?
– Sim, isso mesmo.
– Você tinha cabelo curto e não usava barba…
– Tu tens uma memória boa, hein?
Impressionado com a jovialidade e simpatia do sujeito, o outro amigo perguntou qual era a idade dele.
– Ah, já completei oitenta e um anos! Mas encontrei um conhecido recentemente que me perguntou a idade e respondi que tinha dez anos. Ele se espantou, como dez anos?! Expliquei que não contava os oitenta e sim contei os anos que tenho pela frente. Não vivi nada, ainda!
Falava pelos cotovelos e só parava quando dava um gole no copinho de pinga. Gostava das tiradas e era teatral nas expressões. Enquanto isso, as suas acompanhantes acenavam para ele.
– Essas duas moças bonitas aí são minhas filhas, daqui a pouco chega a minha neta. – revelou com orgulho.
– Pois é, lembro que na sua festa tinha muita gente aqui. – insisti na lembrança.
– Rapaz, você aparenta ter bem menos do que os oitenta e um anos. – falou o mais velho entre nós.
– Olhe só, na minha família tive quinze irmãos, eu sou o caçula, meu pai viveu mais de cem anos e o meu irmão que morreu mais cedo tinha setenta e quatro anos! É uma família de longevos.
Eu pretendia perguntar qual a fórmula dessa longevidade, mas seria uma besteira minha. Estava bem claro que o ingrediente maior para esticada e disposta existência, residia na alegria de encarar a vida, como ele mesmo declarou no breve bate-papo. Afinal o que é a velhice? Como entendê-la? Como encará-la? Para uma vida comum todos nós iremos vivenciar ou estamos vivenciando essa fase, pois o tempo é implacável, mas é justo e oportuno.
Texto que nos ensina muita coisa importante para a vida. Faz pensar no quanto as pessoas desperdiçam o tempo com coisas irrelevantes.
Que texto legal. Otimista. O que importa é “navegar” de forma simples e alegre no mar da vida.