A poesia élfica de Cyelle Carmem

As árvores morrem de pé confirma o nascimento de uma das mais importantes poetas contemporâneas da Paraíba

Rua de Mão Única, por Eduardo Augusto

Cyelle Carmem 📸 Divulgação

A poeta nasceu em João Pessoa em 1978. Já lançou diversos livros e participou de várias antologias. No seu mais novo livro, As Árvores Morrem de Pé, a poeta se mostra madura, com uma poesia delicadamente furiosa, que toca o leitor de modo profundo.

Mestra em Literatura e Cultura pela Universidade Federal da Paraíba, Cyelle desde muito cedo, escreve poemas e tem entre suas referências nomes como Fernando Pessoa, Cecília Meireles e Mário Quintana.

Seu primeiro livro, Luzes do Labirinto, foi lançado em 2010, pela editora CBJE. No ano seguinte, entra para o grupo de escritores e poetas iniciantes da Paraíba, Caixa Baixa.

Em 2012, sai (Uni)verso, seu segundo trabalho, agora pela editora Idea. Os poemas que compõem a obra participaram de alguns festivais e mostras, como Parede Poética e 9° e 10° Festivais de Poesia Encenada, realizados pelo Sesc-PB. Em 2016, Cyelle Carmem faz sua primeira incursão no território do romance.

Com O Tempo da Delicadeza (ou mais um janeiro), a poeta mostra toda sua versatilidade, criando uma prosa poética para contar uma história de uma paixão, onde acompanhamos o dilema de Diana e Amora na busca de um amor cheio de segredos, onde em cada página tudo pode mudar.

Em seus poemas Cyelle se revela. Durante a leitura, encontramos pistas que a poeta deixa sobre si mesma. No poema “Eu Sou”, ela está presente.

EU SOU

No seu sonho
Eu sou o precipício
A curva da morte.

Sou o último suspiro
Antes do alívio
Eu sou
Sua alegria e sua angústia
Doses do mesmo veneno

Eu sou destino
Que a vidente sorteou
Nas palmas da sua mão

No seu pesadelo
Eu sou
Toda e nada

Uma miragem e uma realidade

O poema “Eu Sou” está contido em seu novo livro lançado pela Editora Triluna, As árvores morrem de pé. O trabalho traz poemas escritos durante a pandemia. Madura e com o domínio das palavras, constrói uma poesia, às vezes, suave e delicada como um rio que, vagarosamente, atravessa uma planície, e em outros momentos, sua poesia é furiosa como um maremoto que invade a costa, não deixando pedra sobre pedra.

O título do seu novo livro foi escolhido após ouvir uma música de Jorge Vercillo e depois da autora descobrir que o título também é uma peça de teatro, do espanhol Alejandro Carsona. Essa frase permaneceu na sua mente, Cyelle a guardou para, no momento oportuno, se transformar num título de seu livro.

As árvores morrem de pé seria dedicado à sua avó. Ao pesquisar sobre a peça de Carsona, a autora descobriu que se trata de uma peça sobre a relação de uma avó com sua neta. Então, como um golpe do destino, o título não poderia ser outro.

Composto de poesias novas e outras que esperavam o seu momento, o livro só confirma o nascimento de uma das mais importantes poetas contemporâneas da Paraíba. 

 

CONTENÇÃO

Tenha-me
Mesmo que seus olhos não repousem em mim.

Tenha-me
Mesmo que não saiba
Mesmo que eu não permita.

Tenha-me
Mesmo que seus lábios não saboreiem minhas palavras.

Contenha seu cansaço
Seu desmaio
Seu desespero de não me ver.

Eu reconhecerei você
Em mim.

Cyelle Carmem prepara um novo trabalho. Que surpresas nos esperam? Será um livro gentil, onde a poeta se mostra leve com uma brisa ou será fúria, que nos arrebatará como uma erupção vulcânica? Vamos aguardar toda a poesia de Cyelle Carmem.

Capa: 📸 Divulgação

Eduardo Augusto

Eduardo Augusto é graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é pesquisador da obra do artista visual José Rufino. Livreiro velho que tem seu império de poeiras magicas cumuladas em seus livros e discos.

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