Amor e paz, Bicho!

 A Casa dos Gatos, por Jesuíno André de Oliveira

📸 Jesuíno André de Oliveira

Nelson tem muita história pra contar. Quem não o conhece pessoalmente, vai achar que é uma pessoa desajuizada, ou na melhor das hipóteses, um desastrado. Para quem bem o conhece, tem um pouco de cada, mas é mais pacifico que um monge tibetano.

É um cinqüentão boa pinta cujo tempo parece não fazer efeito. Vistoso, bem alto, cabelos loiros em bom tamanho, barba bem aparada, carrega um sorriso no rosto esbanjando simpatia para qualquer pessoa. Um jeito parecido com um “bicho-grilo” dos anos setenta. Ele conhece muita gente, tem vários amigos e ainda a fama de namorador. Até o momento nunca casou, embora tivesse boas oportunidades.

Também é conhecido como festeiro, nunca fica quieto, e onde tiver um movimento ele está presente, principalmente se tiver mais mulher do que homem. Suas farras são movidas a álcool, o que consequentemente tende a desastres, mas nada que o prejudique e nem aos outros.

Certa vez foi curtir uma festa no famoso São João em Campina Grande, uma das melhores do Nordeste que reúne milhares de pessoas de todo país. Logo na primeira noite saiu empolgado, e meio calibrado, saiu para as paqueras e no primeiro pavilhão que encontrou foi logo se deparando na entrada com uma belíssima moça amorenada, aparentemente só, e foi logo atacando:

– Você é muito linda!

A garota realmente chamava muito a atenção, mas ficou surpresa e sem ação na abordagem. Mas no ato continuo surgiu do nada, como um relâmpago, um negão tamanho guarda roupa, forte como um touro que logo interpelou o atrevido galego:

– O que foi que houve, hein!? – perguntou quase gritando, encarando com cara feia o intruso cabeludo, ao mesmo tempo em que foi abraçando a bela moça.

Existe um famoso ditado paraibano, cuja autoria diz ser do saudoso poeta popular Mané Caixa D´Água, que reza: “Na Paraíba pra ser doido tem que ter muito juízo!”. Ciente desse dito, Nelson na bucha desarmou o dono da casa e apontando o dedo indicador para o rapaz, soltou:

– E você também é lindo!

Disse isso e saiu correndo pela esquerda, deixando o casal se acabar na gargalhada.

Jesuíno André de Oliveira

Cinquentão nascido baiano, adotado paraibano desde 1980, dublê de produtor cultural, crítico musical e podcaster. Trabalhou na área de comunicação e publicidade como redator, atualmente é cronista e aspirante a escritor, além de editor do programa Dicas do MeuSons na rádio Alternativa B.

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1 Comment

  1. Como aspirante a escritor, segundo sua própria biografia, você já nos deixa com vontade de saber o antes e o porvir da personagem. Então a modéstia é ótima, porque você já é um ótimo escritor. Parabéns. E o Nelson que não é doido!!!

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