Os horrores de Lara

Rua de Mão Única, por Eduardo Augusto

Lara Camelo lança Intestino, seu primeiro livro de contos

Intestino 🖼 Divulgação

É sempre uma alegria quando descobrimos algo novo, uma cantora, uma artista visual ou uma escritora. Esses dias tive essa felicidade, descobrir uma jovem autora que está lançando seu primeiro livro de contos. 

Através de uma colega, chegou às minhas mãos o livro Intestino, de Lara Camelo, pela editora Penalux @editorapenalux . Lara é natural de Campinas (SP), nasceu no fim do século passado, em 1999. Hoje, mora em João Pessoa e estuda psicologia, na Universidade Federal da Paraíba.

Entre suas influências estão, entre outros, o mestre Stephen King, Machado de Assis e Agatha Christie, além de alguns tons de Guillermo Del Toro. Com essas influências, Lara constrói uma narrativa consistente e lúcida, levando os leitores a se identificarem com os dramas das personagens.

Lara diz que seus contos têm algo de autobiográfico, onde usa coisas que aconteceram com ela para a construção da narrativa. Outra fonte de inspiração são seus pesadelos, que, durante a pandemia, se tornaram mais frequentes, assim para dar mais leveza e sentido, através de sua escrita, 

“Os contos foram uma forma de transformá-los em algo agradável, pois eu gostava de escrever e dar um sentido a eles.”

Além dos pesadelos, a angústia, o medo e outros sentimentos causados pela pandemia, tornam-se matéria-prima para a construção dos seus contos. Carregada de metáfora, a narrativa de Lara nos causa incômodo e estranheza, nos fazendo encarar a nós mesmos e nossos mais profundos anseios.

Como qualquer estreia, há pontos que precisam ainda amadurecer, mas nada que diminua o valor da obra, mostrando a força que a autora tem e ainda pode desenvolver. Repito, aqui, a fala da jornalista Dinorah Carmo, que escreve a orelha do livro: 

“Amadurecer sua criatividade, enxugar seu estilo literário é uma questão de continuidade e tempo. Seu estilo irregular de alguns contos para outros ilustra essa tendência, sem comprometer o todo, marcado pelo seu talento.”

O livro é composto por treze contos de horror que se entrelaçam trazendo à tona os medos mais íntimos das personagens. Os traumas e anseios aparecem das mais variadas formas; o sobrenatural, a angústia, o repulsivo, estão todos lá. 

Lara falou conosco sobre sua estreia, novos projetos e a vida pela frente.

 

Lara Camelo 🖼 Divulgação

Quando você descobriu que queria ser escritora?

Com cerca de seis anos de idade. Eu sempre gostei de inventar histórias e tenho uma avó e um tio que são escritores, então já sabia que era uma possibilidade.

Quais autores e autoras te influenciaram?

Para esse livro o autor que mais me influenciou foi o Stephen King. Eu o escrevi em uma época em que estava lendo muito o autor. Ele tem uma escrita bastante livre e criativa e isso me inspirou a seguir minha intuição com as histórias sem me prender a moldes. Machado de Assis também é um autor que me inspira muito, e durante a minha formação li muito Agatha Christie. Esses seriam os principais.

Por que escrever contos que causam repulsa e medo?

A maioria dos contos de “Intestino” foram baseados em pesadelos que tive. Eu os escrevi na época da pandemia, um período que foi bem difícil para mim, então os pesadelos eram constantes. Os contos foram uma forma de transformá-los em algo agradável, pois eu gostava de escrever e dar um sentido a eles. Os que não foram baseados em sonhos também foram formas de dar vazão aos sentimentos de medo e angústia que eu sentia na época. 

Tem algo de biográfico na sua escrita?

Acredito que tudo seja biográfico em algum nível, pois todos os contos são uma forma de representar o que eu sinto e minhas vivências de forma metafórica. Mas de maneira mais explícita, a casa em que o conto “Tesoura de Costura” se passa é baseada na casa em que morei na maior parte da minha vida, em Olinda. E, assim como a protagonista do conto “Intestino” eu também caí de um grande balanço de madeira que tinha no quintal dessa mesma casa. 

Por que Intestino?

“Intestino” é um dos contos e acredito que seja o título que melhor representa a essência do livro. Ele se trata de uma parte, literalmente, visceral do corpo humano. Minha ideia é a de que as protagonistas estão completamente expostas, despidas de sua pele a ponto de mostrar os órgãos internos, uma parte fundamental de sua natureza.

A quanto tempo você está morando em João Pessoa e o que te trouxe para essa terra?

Estou morando aqui há quatro anos. Vim cursar psicologia na UFPB. Já estou terminando o curso, mas pretendo continuar aqui.

🖼 Divulgação

Eduardo Augusto

Eduardo Augusto é graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), é pesquisador da obra do artista visual José Rufino. Livreiro velho que tem seu império de poeiras magicas cumuladas em seus livros e discos.

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2 Comments

  1. Muito bom ver novos escritores surgindo. Principalmente sendo em nosso cenário Paraíba. Desejo muito sucesso para Lara Camelo.

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