Rua de Mão Única, por Eduardo Augusto
Criador do #Cyberpunk, Gibson delineou as linhas que norteiam toda uma geração. Carregado de tecnologia, vilões, anti-heróis e femme fatales em luz de neon, além de um cenário urbano apocalíptico em cinza, nascia assim Neuromancer, romance angular da cultura Cyberpunk.
Em 2014, Gibson retorna à ficção científica em Periféricos, um thriller policial denso e contundente e com a originalidade de sempre. Agora, adaptada para o streaming da Amazon Prime Video.
A trama acompanha a jovem Flynne Fisher, que vive no interior dos EUA, numa época não tão distante. A situação não é das melhores. Economia em colapso, falta de emprego e os únicos trabalhos são em bares ou restaurantes, trabalhos ilegais como tráficos de drogas, uso da tecnologia e jogando videogames por dinheiro. Não parece um futuro tão distante assim. Fisher trabalha com seu irmão Burton num jogo de realidade virtual, pilotando drones para afastar outros drones de pessoas famosas.
Em um desses trabalhos Burton pede para Fisher o substituir, é nesse plantão que ela presencia um assassinato, que mudara não só sua vida, mas toda a percepção da realidade. Em outra parte do tempo-espaço, vivendo 70 anos no futuro conhecemos Wilf Netherton que vive nesse mundo onde a humanidade quase desapareceu no chamado apocalipse lento, mudanças climáticas, doenças e todo tipo de praga deixam a Terra quase inabitada.
Na Londres futurista de Wilf, onde existe tecnologias exacerbadas, corpos alugados, chamados de periféricos, quase sem humanidade, é descoberta quase por acaso a possibilidade de se enviar dados para outra parte do espaço-tempo, portanto o assassinato presenciado por Fisher não era apenas virtual, mas real, o alvo era um cliente de Wilf, que estava ligado através de dados no tempo-espaço.
O livro é para aqueles que não temem mergulhar no abismo profundo de uma mente que prevê o mais sombrio dos futuros. A editora Aleph lançou, em 2020, uma belíssima edição em português dessa obra fundamental do trabalho de Gibson.
Os criadores da série, Johnathan Nolan e Lisa Joy, responsáveis também por “Westworld”, avisam que o livro serve de base e que não seguiram à risca, tomando algumas liberdades para melhor adaptação.
Apesar da livre adaptação do livro, a série não perde força, trazendo boas cenas de ação, surpresas e reviravoltas. Assim os não iniciados no gênero não sentirão dificuldades e os fãs do Gibson se sentirão contemplados com a adaptação. Sugiro aos leitores que, antes de seguir a série, mergulhem profundamente no livro lançado pela Aleph.
Muito bom o texto. Principalmente se tratando de um tema que, inexoravelmente, parece prever os meandros nos quais a humanidade tem se envolvido, com prováveis consequências. Em relação a série, não surpreende o excelente trabalho criativo do Nolan. Sua competência é indiscutível!