Rua de Mão Única, por Eduardo Augusto
“Vendo minha vida, use-a como quiser”. É dessa forma que encontramos o lado ácido e surreal de Yukio Mishima, um dos grandes nomes da literatura japonesa. Seu livro lançado pela Estação Liberdade, em 2020, comemora 50 anos de sua morte.
Vida à Venda conta a história de Hanio Yamada, um publicitário que fracassa ao tentar suicídio. Decepcionado, coloca sua vida à venda, levando o leitor inapelavelmente ao submundo, onde marginais e desiludidos da sociedade japonesa se tornam personagens da trama.
A história se desenrola com personagens estranhos, numa comédia barroca carregada de horror, se estabelecendo entre Yamada e o leitor uma cumplicidade na busca pelo sentido da vida e pelos caminhos da alma.
Yamada busca um comprador para sua vida, a fim de lhe guiar ao melhor caminho para a finitude e que, de alguma forma, subverta o tédio de sua amarga vida.
Yukio Mishima foi um escritor polêmico nascido em 1925. Estreou logo cedo na literatura aos 19 anos. Em 1949 lançou Confissões de uma máscara e, em 1951, Cores Proibidas, figurando assim entre os grandes talentos de sua geração. Misturando na sua obra ocidente e oriente, Mishima explorou temas tabus para a sociedade japonesa, como homossexualidade e culto ao corpo masculino. Para ele, a arte era indissociável da vida. Produziu incansavelmente. Era romancista, poeta, dramaturgo e ator.
No decorrer de sua vida, Mishima se torna muito crítico à ocidentalização do Japão do pós-guerra, levando seu descontentamento até as últimas consequências. Em 1970, invade um quartel do exército, tentando incitar um golpe de Estado para restituir os poderes divinos do imperador. Não tendo a resposta, nem a adesão que esperava, Mishima faz um discurso acalorado e, diante do seu grupo paramilitar, comete o seppuku, o suicídio ritualístico dos samurais.
Yukio Mishima levou até ao extremo seu estilo de vida, onde arte e vida são inseparáveis, se tornando um dos maiores nomes da literatura japonesa, ao lado de Tanizaki, Kawabata e Akutagawa.
Apesar das dificuldades nas negociações para publicação da obra de Mishima no Brasil, foi muito satisfatório o pacote para publicação dos seus livros, segundo o Angel Bojadsen, diretor editorial da Estação Liberdade. Ainda serão publicados Sol e Aço e a obra máxima de Mishima, a tetralogia Mar da Fertilidade. A Estação Liberdade é a mais importante editora no Brasil, no nicho de literatura asiática, nos brindando mais uma vez com o melhor da literatura da terra do sol nascente.
🖼 Divulgação
Embora breve, a matéria cria conexão conosco. Nos incitando o desejo de conhecer a obra desse escritor nipônico. Deve ser muito interessante conhecer o mundo de um escritor oriundo de uma sociedade tão detalhista e, porque não dizer, impecável, como a sociedade japonesa. Dá pra imaginar como foi desafiador para ele! Parabéns pelo texto! Abraço!